domingo, 29 de novembro de 2015

Adoção e gratidão aos pais!


"Uma questão que veio à tona no primeiro módulo do nosso Curso de Formação em Constelações Sistêmicas foi a questão da adoção. Como se vê a adoção nas Constelações? Porque a criança/pessoa adotada necessita reconhecer os pais biológicos?


Qual o nível de interação da criança com seus pais adotivos? A adoção é uma questão polêmica e são muitas dúvidas que envolvem esse tema. Resolvemos então comentar um pouco mais.

Na constelação trabalhamos com três níveis de consciência: a consciência pessoal, a consciência sistêmica/coletiva e a consciência espiritual. Fazendo uma analogia, podemos pensar em três níveis de vínculo: o vínculo pessoal, o vínculo sistêmico e o vínculo espiritual.

No nível do vínculo pessoal a criança adotada, tem um vínculo maior com os pais adotivos, pois a criança está sendo cuidada pelos seus novos pais. Podemos também chamar esse vínculo de psicológico. Psicologicamente essa criança está mais conectada com os pais adotivos.

Percebemos porém que em um nível sistêmico a criança adotada está mais fortemente ligada aos seus pais biológicos, mesmo que não os tenha conhecido. Se observarmos uma constelação onde colocamos a criança junto com seus pais biológicos e os adotivos, essa criança mostra um forte vínculo com seus pais biológicos. Esse vínculo é tão forte que a criança pode até mesmo repetir o destino desses últimos. Podemos dizer que os filhos adotados são leais ao seu sistema de origem.

As observações mostram que os problemas com os filhos adotados, principalmente as adoções que são mantidas em segredo, inicia-se no final da adolescência. A solução para a família que adotou passa pelo reconhecimento dos pais biológicos, colocando-os no seu coração e olhando-os com amor, sem julgamento e sem críticas à sua conduta. Os filhos adotivos dessa forma se tranquilizam e aceitam sem revolta o amor e os cuidados dos pais adotivos.

Outro exemplo que mostra a força do vínculo sistêmico é o aborto. Em muitas constelações quando olhamos para os pais e seu filho abortado, vemos que mesmo não tendo participado da vida dos pais fora do útero, esse filho se vincula profundamente a seus pais. Podendo o aborto gerar diversos problemas e conflitos, inclusive a separação do casal.

No terceiro nível, o espiritual, a criança está além dos vínculos, além da família. Ela pode escolher seu próprio caminho. E esse caminho passa pelo reconhecimento e agradecimento à família que lhe acolheu – os pais adotivos, bem como um reconhecimento e um agradecimento, talvez ainda mais profundo, aos pais que lhe deram a vida. Ela então, está livre para seguir seu caminho individual e buscar a sua felicidade e realização."

Guilherme Ashara
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E interessante observar que os problemas tornam-se os mesmos com filhos legítimos, quando não existe a gratidão acima mencionada.
Independente do que nossos pais biológicos tenham feito de suas vidas, nós, os filhos, devemos ser gratos.
Por quê?  Porque recebemos a vida deles... e isso não tem preço, não tem como pagarmos. É gratidão...sempre!
E nas constelações podemos observar com muita clareza, que muitas questões emaranhadas na vida do cliente estão intimamente ligadas aos seus pais, quase sempre!
Este trabalho é uma oportunidade muito amorosa de "vermos"o nosso inconsciente manifestado.
Ao honrar os pais podemos seguir, fluir na vida.
Encerrando 2015, estaremos Constelando no próximo dia 15 de dezembro ( Capitao Souza Franco 881, cobertura às 19:30)
Boa semana
Tais

domingo, 22 de novembro de 2015

Pedir ajuda, você sabe?


"Como é difícil pedir ajuda às vezes. Aprendemos tanto com a autossuficiência e o individualismo que perdemos o jeito de pedir ajuda. Sentimos vergonha e acanhamento, ou sentimos orgulho mesmo. Orgulho para o outro não saber o que você está passando, ou para a sua imagem não ficar arranhada.


Construímos autoimagens idealizadas de nós mesmos e nos identificamos com elas. Imagens de uma pessoa que se resolve bem, lida bem consigo mesmo e com suas dificuldades. Talvez a imagem de uma pessoa forte, que todo mundo pode contar com ela para o que der e vier. A imagem de alguém que entende de tudo e tem solução para tudo. A imagem de alguém que não se deixa abater pelas circunstâncias da vida, ou de alguém que sempre se virou sozinho e nunca teve apoio e agora é que não vai ter.

O fato é que essas imagens vão sendo estruturadas ao longo da vida e a pessoa se torna refém delas. Não consegue mais se desvencilhar de tais comportamentos que confirmam essa imagem e quando uma situação acontece, atua aquele personagem automaticamente. Enquanto isso, vai se fechando mais e mais em seu casulo de autossuficiência solitária e quando menos percebe, cadê o apoio das pessoas? Claro, todo mundo sumiu, ninguém nem pensa que você precisa de ajuda para alguma coisa. Parece até um afronta lhe perguntar: quer ajuda? A resposta é sempre a mesma: não, está tudo bem...

O orgulho, que está encoberto pela imagem de autossuficiência é uma das características do eu inferior que mais nos causa problema. Quando estamos submetidos a ele, encobrimos muitos sentimentos como o medo, a vergonha, o complexo de inferioridade, o não saber das coisas, a impotência, o fracasso, a insuficiência, as perdas, os recalques, os vícios, a incompetência, a vaidade, a humilhação, a exclusão. Mas, como é muito difícil encarar essas emoções que machucam demais, a couraça do orgulhoso começa a se formar para se proteger. Então, o orgulhoso nunca pede nada, nunca precisa de nada e sempre é melhor que o outro em tudo.

Conhece alguém assim? Se conhece, veja bem como ele atua e procure perceber o que ele esconde. Se esse alguém é você, faça uma lista das coisas mais difíceis de encarar em si mesmo, aquilo que mais o ofende, causa-lhe raiva ou o deixa triste. Pergunte-se quando esse sentimento surgiu na sua vida, faça uma retrospectiva, vá longe, lá na infância, perceba como isso foi reforçado ao longo dos anos. Peça de verdade para ir à origem dessa dor, ir ao núcleo, onde você sentiu que perdeu algo importante e a partir dali começou a forjar um novo eu para lidar com aquela dor. Ao chegar ao núcleo, perceba a promessa que você se fez e observe se até hoje você está agindo de acordo com ela. Nesse momento, terá duas opções, continuar no seu casulo ou sair dele e deixar o passado pra lá. Você escolhe.

Se resolver abandonar a casca, olhe para as pessoas amigas que lhe ofereceram ajuda e você se negou a receber. Comece a ver o outro lado agora, exercite esse pedido, abra-se para a troca, para se doar também. Veja como é bom, como é agradável sentir o apoio e dar apoio. Como é caloroso e nos dá um senso de acolhimento e pertencimento. Como sentimos que estamos juntos, unidos, fazendo parte. Como o estado de separação se dissolve e a ideia de eu melhor que outro se revela ilusória e transitória. Perceba o ciclo da vida, um dia lá, outro dia cá. Veja que nada permanece igual o tempo todo. Hoje você dá, amanhã você pede. É um fluxo, a vida segue esse fluxo, tudo no universo segue esse fluxo da interdependência das coisas. É bom não resistir a isso, é bom fluir com a vida. Fica mais leve, mais fácil, mais gostoso. Vamos exercitar?"
Valeria Bastos
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Existem outros "amores" e não podemos confundir autossuficiência com ele...

Um homem que  ama a si mesmo respeita, e um homem que se ama e respeita a si próprio respeita os outros também, porque ele sabe, assim como eu sou, assim são os outros. Assim como eu gosto de amor, respeito, dignidade, assim como os outros. Ele se torna consciente de que não somos diferente . Na medida em que os fundamentos estão em causa, nós somos um.

O homem que ama a si mesmo desfruta do amor portanto, torna-se tão feliz, que o amor começa a transbordar, começa a alcançar os outros. Tem que chegar! Se vive o amor, tem que partilhar. Pode ir amar a si mesmo para sempre porque uma coisa ficará absolutamente clara para si: que se ama uma pessoa, você mesmo, é tão tremendamente extasiante e belo, quanto mais êxtase está esperando por si, se começar a partilhar o seu amor com muitas mais pessoas!
Vamos nos amar...e o caminho é amar seu próximo! Com certeza, assim, desaparecerá a necessidade de omitir o "pedido de ajuda". Quanto mais conheço a mim mesmo, mais conheço meu próximo. 
E paradoxal...mas é verdadeiro.
Tais

domingo, 15 de novembro de 2015

Por que atraímos relacionamentos destrutivos?

"Os padrões comportamentais são estruturas complexas e imprevisíveis que se formam a partir de repetições compulsivas e, muitas vezes, inconscientes. Pensamentos, palavras e ações expressos de maneira irrefletida, sistemática, sem intenção, ocorrem a todo instante e nem sempre condizem com o nosso real sentimento e desejo.

Ao reagirmos negativamente a atitudes de outras pessoas sem darmos conta disso, dizermos o que não queremos de fato ou ferirmos e magoarmos alguém de quem gostamos, estamos nos deixando levar por mecanismos internos de reação a algo que já foi experimentado muitas vezes. A tendência é seguir o primeiro impulso e soltar a carga sem pensar, o que acaba tendo um peso ou conseqüência além do que a situação enseja.

Quando se está atento e já se conscientizou desse comportamento desequilibrado, vem o arrependimento, a culpa, a auto-punição, dor e sofrimento, mas é tarde. No entanto, quando estamos excessivamente identificados com a máscara e mentimos para nós mesmos, fingindo não sentir, o problema e o culpado são sempre os outros. O orgulho fala mais alto e não voltamos atrás nem para refletir um pouco sobre nossos atos e emoções descontroladas. É mais fácil, claro, e preferimos seguir o caminho do menor esforço, daquele velho e conhecido jeito de ser.

Esse é um drama humano – samsara - ciclos de vida e morte. E não se trata apenas da morte que se passa no fim da vida física. São as pequenas mortes de todos os dias: as mortes do ego, da esperança, do desejo de ser feliz, do amor próprio, da auto-imagem idealizada, dos sonhos! Tudo isso maltrata, dói e fere a alma profundamente. Uma vez ferida, percorre incessantemente inúmeras vidas em busca de curar as dores que se agigantam, sem fim.

Esses ciclos parecem infindáveis e, na verdade, são mesmo! A menos que a personalidade atual decida conscientemente se enfrentar para romper e liberar padrões doentios da alma, repetirá outros tantos processos semelhantes. A lei de causa e efeito rege o caminho do Ser com sabedoria e isenção. O resultado das nossas ações nos retorna na mesma freqüência e intensidade, seja em que tempo for, nesta ou em outra vida. E como vivemos padrões antagônicos - ora de vítima, ora de algoz - na tentativa insana de nos livrarmos do sofrimento, não é garantido vivermos situações felizes e harmoniosas num outro tempo.

Mas, afinal, por que atraio relacionamentos destrutivos? Para confirmar a crença de que não mereço ser feliz? Para me punir? Para assumir o papel de vítima e ganhar a atenção de outras pessoas? Para me vingar de algo inconsciente? Como forma de aprendizado, crescimento e oportunidade de autoconhecimento? Sim, pode ser uma dessas respostas ou algumas delas, combinadas entre si. E isso tem a ver, necessariamente, com vidas passadas? Certamente, pois carregamos conteúdos inconscientes que são reprisados como pensamentos, palavras e ações, do lixo que ficou armazenado internamente no psiquismo.

Nossa mente nos leva de um lado para outro e estamos à mercê dela. Há alguma dúvida disso? Se refletirmos um pouco sobre a vida que levamos e o nosso jeito de ser chegaremos à conclusão de que há algo obscuro e abstrato em nós que não conseguimos enxergar com clareza. Como se alguns sentimentos e emoções de repente não fizessem sentido e não soubéssemos exatamente de onde vêm e como cessá-los; parecem mais fortes que nós. E não fazemos ainda por não conseguirmos transmutar as cargas pesadas de ontem e do quantum energético originado, de maneira consciente e voluntária, sem auxílio de um recurso terapêutico."
Valeria Bastos
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Através da Constelação Sistêmica Familiar, quando o inconsciente se manifesta através dos representantes escolhidos no grupo, a fenomenologia mostra - nem sempre de maneira compreensiva - a origem do "emaranhamento familiar". Através do que "se mostra" podemos via Leis do Amor, criadas por Bert Hellinger, deixar a a alma buscar a melhor solução.
É bem verdade, que às vezes a solução apresentada não é aquela que o cliente deseja, mas com certeza é a melhor para aquele sistema.
Por isso dizemos que o Constelador é o menos importante na solução, pois não é ele que "sabe" a resposta...mas sim o sistema do cliente. Nós apenas facilitamos o trabalho.
Ao olhar para àquilo se mostra, o cliente percebe o que precisa ser "tomado, respeitado ou modificado", e assim, continuar sua vida... sem julgamentos e mais comprometido com o processo de autoconhecimento e crescimento.
Obviamente não existe mágica em se tratando de cura e transformação pessoal, especialmente relacionado a processos profundamente enraizados no inconsciente humano e planetário. 
Ficar no passado , nos julgamento, nas histórias que nos contam só atrasa a nossa evolução. Feita a Constelação será necessário deixa-la...e aguardar o que virá! 
Tais

domingo, 8 de novembro de 2015

Curando as Feridas do Aborto

"Até mais de uma década atrás, eu era, como a grande maioria da nossa sociedade, totalmente ignorante no que diz respeito ao aborto, numa perspectiva sistêmica.

Somente com a entrada da Constelação Familiar na minha vida, pude começar a perceber os efeitos que um aborto causa para o próprio feto, para os pais e para toda a família.

Quando tive a oportunidade de reviver dezenas de casos de aborto - inclusive alguns meus - através das Constelações Familiares pude sentir o quanto aquelas "almas" ainda estavam ligadas a seus pais. No meu caso particular, pude sentir cada uma delas e pude finalmente me reconciliar com as mesmas e, por conseguinte com o meu próprio coração.

Caso você tenha provocado algum aborto, aproveite a leitura desse artigo para incluir esse ser abortado no seu coração e curar assim essa ferida que provavelmente ainda está aberta no seu peito.

Bert Hellinger, o criador da Psicoterapia Sistêmica Fenomenologia, conhecida também como Constelação Familiar Sistêmica, não tem nenhuma vinculação religiosa, mas é a meu ver um ser religioso que busca a espiritualidade em cada fenômeno que a ele se apresenta. Ele teve "insights" preciosos a respeito do aborto e suas consequências.

Tomei conhecimento das Constelações Sistêmicas através de uma amiga - a terapeuta alemã Mimansa que desde cedo vem acompanhando o trabalho de Bert Hellinger e suas descobertas incrivelmente reveladoras. Tive a oportunidade de trazer a Mimansa para dar seu primeiro workshop em Fortaleza em 1997. E fiz minha formação básica com outro alemão – o médico e psicoterapeuta Bertold Hulsamer, entre 1999 e 2000, na Índia. Tive também a felicidade de ser o primeiro constelador a atuar aqui no Nordeste do Brasil.

Quando vi pela primeira vez a colocação nas Constelações de filhos abortados, pude perceber que o mal maior é causado não somente pelo ato de abortar, mas pela exclusão e tentativa de esquecimento daquele filho rejeitado.

Os pais, principalmente a mãe, ficam ligados sistemicamente a esse filho abortado, até mesmo negando a sua existência, inconscientemente eles estão conectados ao mesmo. E o que é mais grave, os pais olham na direção dos filhos mortos prematuramente e inconscientemente dizem: "eu sigo você meu filho querido". Isso significa que eles iniciam uma caminhada na direção à morte, ao fracasso, à doença ou à separação.

Os filhos vivos por sua vez, sentem a "ausência" dos pais e percebem inconscientemente que um deles, ou os dois, querem desaparecer. O olhar dos pais fica perdido no horizonte. Então, por amor, os filhos vivos dizem internamente: "Antes eu do que você, querido pai ou mãe".

E se esse desejo inconsciente de substituir os pais na caminhada em direção à morte não for interrompida, pode ocasionar uma seqüência de mortes e/ou doenças, geração após geração, até o momento que tudo isso seja trazido à luz. E esse padrão destrutivo será interrompido quando pudermos incluir no coração todos os que morreram, foram excluídos ou esquecidos, inclusive os filhos abortados.

Bert Hellinger em seu livro "A fonte não precisa perguntar pelo caminho" nos elucida essa questão do aborto: "Crianças abortadas têm sempre um efeito especial para seus pais. Nisso existe, frequentemente, a dinâmica de que a mãe ou o pai dessa criança abortada queira segui-la, também, na morte. Ou expiam, quando mais tarde não se permitem estar bem, por exemplo, não têm ou não encontram mais outro companheiro. Ou, se têm um relacionamento, se separam. Isso seria muito pior para a criança abortada se soubesse do efeito do seu destino".

Em outro parágrafo Bert fala da reconciliação e da cura: "A dor e o amor reconciliam a criança com o seu destino". 

Nas minhas palavras: É necessário assumir a dor e a responsabilidade ou sentimento de culpa para que o amor suprimido volte a fluir na interação com o filho abortado e na vida dos sobreviventes. Toda essa compreensão me ajudou a curar feridas de peso e culpa que eu carregava sobre mim. Os passos que dei são os mesmos que qualquer pessoa pode dar: reconhecer os abortos, incluir meus filhos abortados no coração; reverenciar a mãe ou o pai e assumir a sua parte da responsabilidade.

Pude, durante e depois de cada vivência, sentir o amor expandindo em meu coração, uma leveza e um desprendimento que invadiu todo o meu ser.

Bert também nos dá dicas preciosas de como continuar nosso processo de cura, ele diz: "E é importante que a força que vem da culpa possa fluir para algo bom em homenagem a essa criança, por exemplo, no cuidar generosamente de outros. Isso atua de volta na criança. Então a criança não se foi. É acolhida novamente pelos seus pais, participa de sua vida e fica reconciliada. Isso seria uma boa solução para todos".
Namastê!
Guilherme Ashara
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Quando se sente amor, pelas crianças abortadas, aceitando-as e dando um lugar, abrem-se as portas da liberação para o abortado, para seus pais e irmãos. É um ato de amor de valor imensurável.

Caso você tenha fracassos, depressão, ou sentimentos que levam à autodestruição, busque um terapeuta que trabalhe com Constelações Familiares e comprove o quanto de cura pode se alcançar. É bem verdade que muitas pessoas procuram soluções mágicas e instantâneas...mas não funciona assim!
É necessário processar internamente tudo que foi "constelado", e, aos poucos, ir sentindo aquilo que deve ser "olhado", "tratado"e modificado por si mesmo(a). 
Boa semana
Tais


domingo, 1 de novembro de 2015

Amor que cura e amor que adoece

"Alice, (*) 30 anos, chegou a meu consultório com a seguinte queixa: “não consigo completar aquilo que começo, já comecei faculdade e parei no meio e meus relacionamentos não duram muito”.

Concordamos em trabalhar durante três meses, sendo um atendimento por semana. No terceiro atendimento ela quis desistir, seguindo o seu padrão de não dar continuidade a nada. Só aceitou continuar porque já haviam sido reveladas questões profundas sobre a sua dificuldade.

Primeiro ela tinha um pai ausente. Ele passava freqüentemente dias e até semanas fora de casa. Ela tinha muitas dificuldades com o pai e começou a perceber também o quanto de raiva acumulara em relação ao mesmo.

Um segundo ponto importante é que a mãe tinha uma personalidade dúbia: uma hora era contra o pai e seus atos suspeitos e outra hora aceitava a situação e pedia aos filhos que também o aceitassem.

Ficou claro na terapia que a filha absorvera os sentimentos da mãe. Por amor e com dó do sofrimento da mesma, ela tomou para si toda a raiva e a dor que a mãe acumulara durante toda a sua vida.

É possível assumir sentimentos alheios? Como isso se dá?

O terapeuta e filósofo alemão Bert Hellinger - criador do método das Constelações Familiares – em seu livro "A fonte não Precisa Perguntar pelo Caminho", descreve esses sentimentos e os chama de sentimentos adotados. Ele afirma: “ ...os sentimentos adotados
nascem como efeito de uma identificação.” E exemplifica: “Se eu estivesse identificado com o irmão do meu pai, então sentiria como ele; e não poderia vê-lo, porque na identificação sou como ele”.

Pois é, durante toda a vida Alice representou um papel que não lhe pertencia. Ela assumiu, além dos sentimentos da mãe, ações da mãe, como por exemplo, decidir como seria o relacionamento dos seus pais. A mãe, na inconsciência da situação, pedia rotineiramente conselhos à filha e até delegava responsabilidades à mesma de se comunicar com o pai e exigir uma mudança de postura do mesmo.

O que você acha que pode acontecer se assumo os sentimentos ou a responsabilidade de alguém?

No caso da Alice, ela começou a se dar conta da tremenda carga que carregava nos ombros. Percebeu também que suas investidas para se relacionar com alguém nunca se sucederam porque ela agia com os namorados da mesma forma que sua mãe agia com seu pai, isto é, com total desconfiança. Ela chegou a declarar que não confiava em ninguém. Mostrei que ela não confiava nos homens por sentir a vibração de traição do pai e não confiava nas mulheres porque sua mãe a traiu, usando-a inconscientemente e colocando-a contra o pai, durante toda a vida.

Alice também se sentia absolutamente frágil e insegura em todas as situações de sua vida. Sugeri que isso provavelmente eram também sentimentos tomados da mãe.

Então, ela fez a pergunta mais lógica e esperada: “como posso sair dessa situação e recuperar minha força e minha dignidade”?

O primeiro passo é descobrir que papéis e sentimentos dos outros você está tomando para si. Isto acontece normalmente em situações familiares onde o filho assume o papel do pai ausente ou a filha assume o papel da mãe que por algum motivo não ‘olha’ para o marido e para a família.

Acontece também em casos nos quais a mãe, por exemplo, casa novamente e leva um filho para o novo casamento: esse filho pode
assumir o papel de parceiro da mãe, não dando espaço para a mãe no seu novo relacionamento.

Reconhecidos os papéis, então, os pais, energética e verbalmente, se colocam diante dos filhos como pais e expressam algo como: “agora eu assumo minha vida e meu relacionamento e decido tudo com meu parceiro/a. Você (falando para o filho/a) é somente o filho/a. Por favor, não interfira mais no meu relacionamento e nas minhas decisões”.

Esse posicionamento resgata profundamente a força que os pais tinham entregado aos filhos e, ao mesmo tempo, retira um peso tremendo dos ombros dos mesmos.

Um caso pessoal:

Lembro que quando tinha cerca de vinte e um anos já trabalhava e ganhava um bom salário. Meu pai trabalhava em outra cidade. Por ser o filho homem mais velho que continuava morando na casa dos pais, fui ‘requisitado’ para assumir o papel de homem da casa, isto é, o papel do pai.

Assumi esse papel por algum tempo, mas num impulso decidi não querer mais esse peso e essa responsabilidade para mim. Saí de casa. Bendito impulso que me levou a descobrir minha vida por conta própria, a tomar minhas decisões e assumir a responsabilidade por meus erros e acertos.

Assumindo por amor...

É importante também compreender que os filhos assumem esses papeis por amor aos pais e os pais permitem inconscientemente. Esse amor entre pais e filhos, nessa situação, é o ‘amor que adoece’. Reconhecido esse padrão inconsciente e resgatando nossos verdadeiros papéis damos espaço para o ‘amor que cura’.

E isto está acontecendo agora com Alice. Ela começou a compreender e aceitar o seu papel de filha. Aprendeu também a aceitar e reverenciar as decisões e o destino dos pais.

Ela começou a ver sua família como semente do seu amor, mas também compreendeu que a mesma família pode ser a raiz de todas as suas neuroses.

O final feliz dessa história ainda pode levar algum tempo, mas certamente, Alice já deu um passo tremendo para uma vida familiar mais harmônica e honesta e uma vida pessoal feliz, equilibrada e aberta para relacionamentos amorosos mais profundos e duradouros.
(*) Alice é nome fictício."
Guilherme Ashara