sábado, 27 de agosto de 2011

Quando muda o jeito de olhar...



"Era uma onça danada! Dava conta de tudo o que acontecia no meio dos muros! Seu espírito crítico era felino e implacável! Tudo ela percebia e criticava! Nada lhe passava despercebido. Ela enxergava defeitos em tudo e em todos, com um olhar penetrante e atento! E soltava o verbo sem dó nem piedade.
            Um dia, porém,  aquela onça começou a sentir a vista meio cansada. Ela já não enxergava mais como antes... e resolveu consultar o oftalmologista de plantão. Falou de seu problema de perda de visão e o oftalmologista resolveu fazer uma cirurgia. Assim aconteceu e, feita a cirurgia, a onça se mandou pelos matos.
            No entanto, algo de muito estranho aconteceu: agora, aquela onça estava enxergando coisas terríveis, tão terríveis como nunca antes havia enxergado! O que estaria acontecendo? Será que as coisas haviam mudado tanto assim na vida da selva?Porque nunca antes havia enxergado essas coisas? Como poderia estar acontecendo tanta coisa horrível?
             Aquela onça passou a viver amedrontada, assustada com tudo o que via! E vivia inquieta, fugindo de uma canto para outro, se escondendo para não enxergar as coisas...mas não tinha jeito: parecia que cada vez mais as coisas saltavam aos seus olhos, amedrontadoras e terríveis.
            Resolveu por fim ir de novo ao oftalmologista e contar o que aconteceu. Admirado o oftalmologista examinou seus olhos...  e logo, com muito espanto, descobriu o problema:  Dona Onça – disse ele, a senhora me desculpe! O erro foi meu! Quando eu fiz a cirurgia  nos seus olhos,  eu me enganei... e deixei seus olhos voltados para dentro! Por isso você estranhou o que estava vendo! Como seus olhos estavam voltados para o lado de dentro, você deixou de enxergar o que estava à sua volta e passou a ver o que estava dentro de você! Mas, fique tranqüila! Agora mesmo eu resolvo o problema! É só questão de recolocar seus olhos na posição certa!
            E assim fez! Uma nova cirurgia... e os olhos da onça voltaram a enxergar à posição antiga.
            Ela voltou novamente para a selva... mas as coisas já não eram como antes. Ela enxergava diferente, agora. Era um jeito novo de ver as coisas... como nunca antes havia acontecido: ela olhava os outros bichos, observava tudo o que acontecia na selva... mas achava tudo normal e era mais compreensiva com as falhas dos outros. Seu olhar crítico de antigamente era um olhar misericordioso para com as fraquezas dos outros... simplesmente porque, depois de ter visto tanta coisa ruim quando seus olhos estavam voltados para dentro, nada mais poderia a assustar! Aquilo que via agora nos outros era muito pequeno... em comparação com aquilo que havia enxergado antes!"

Existem muitas situações que podem nos colocar na mesma percepção da  onça quando seus olhos olharam para dentro de si
Pode ser um grupo de auto desenvolvimento, um terapeuta, um amigo, uma situação traumática...tudo depende de como usamos o que nos chega e do que estamos buscando.
A partir dessa nova experiência, que pode ser ao mesmo tempo angustiante e assustador (e é um bom sinal quando o é), a pessoa poderá descobrir um novo olhar sobre os outros e sobre o mundo que a rodeia. O confronto acolhedor com sua própria fragilidade transforma profundamente o olhar pessoal.
E para completar, postei abaixo um vídeo  muito especial do Rubem Alves, onde ao assisti-lo poderemos sedimentar algumas conclusões.
E por último mas não menos importante, obrigada Claudia por tantas indicações valiosas. Grande parceira de trabalho!
Tais

Um novo jeito de olhar - Rubem Alves

domingo, 21 de agosto de 2011

Rastreando Sentimentos



RASTREANDO SENTIMENTOS

"Seria extraordinariamente criativo se alguém inventasse um “GPS” para sentimentos, um rastreador de emoções, um localizador de afetos.

De minha parte, adoro rastrear sentimentos usando meu equipamento de pura sensibilidade. Meu instrumental não é eletrônico, dispensa conhecimentos de cibernética ou tecnologia aplicada e tudo o mais que perambula nas dimensões do universo digital.

Na maioria das vezes, evocamos memórias. Pode ser um aroma, uma imagem, um som, um lugar, um rosto, uma silhueta que servem de detonador para disparar uma lembrança, e outra, até terminar com a evocação completa do passado, prática tão peculiar na existência humana. E a soma dessas lembranças traz à tona sentimentos múltiplos e diversificados.

Aliás, rastrear sentimentos é ato simples. Requer somente prática, habilidade e coragem. Rastrear sentimentos é desembrulhar um pacote de emoção amarrado com fios invisíveis a que modernamente denominam de ”wireless”.

Abro os olhos para a manhã que chega e a interação se inicia independente da minha vontade. Leio um e-mail e penetro na alma de quem me escreveu como quem se instala sem mais essa ou aquela no íntimo alheio. Reconheço um sentimento envolto nas entrelinhas. Uma saudade. Uma alegria. Uma vitória. E com esses sentimentos descobertos vou desnudando meus próprios sentimentos.

No caminho para o trabalho cruzo com fisionomias tantas, olhares contidos, testas franzidas, sorrisos velados, passos apressados, ombros caídos plenos de recados implícitos (e, às vezes até, explícitos). Sentimentos compartidos que se espalham no meu território, procurando espaço para se acomodarem.

Rastrear sentimentos é se permitir a descoberta do outro na intimidade que a percepção permite sem conotações de invasão de privacidade.

Rastrear sentimentos é determinar latitude e longitude de quem está junto ou longe. “Penso em ti e dentro de mim estou completo. O amor é uma companhia” (Fernando Pessoa). Somos capazes de vencer distâncias, tempo, chuvas torrenciais, nevascas, montanhas e planícies para assimilar sentimentos esparsos, dispersos por vias outras que não as do nosso convívio. E nisso reside o extraordinário detalhe do mecanismo de percepção que nasce conosco, implantado como um “chip” e que nos possibilita perscrutar os insondáveis escaninhos das emoções em suas amplas manifestações.

E aos sentimentos novos cabe o mérito do resgate daquilo que em nós, vez ou outra adormece.

Na descoberta de uma amizade, de um afeto, de um amor reabastecemos nosso acervo de sentimentos. Sentimentos inaugurais sempre bem-vindos.

E, quando que se fala em estréia, surge a ideia de que algo novo está para acontecer. Uma inusitada gama de elementos conspira para que o movimento se suceda em contínuo e inédito resfolegar.

O palco ainda permanece com suas cortinas fechadas e a ansiedade da platéia não é menor do que a dos atores. E assim é com o cotidiano da humanidade. Cada dia uma nova perspectiva de inauguração. Inauguração de metas, de conquistas, de surpresas, de rastreamento de inéditas emoções e sentimentos recém chegados.

Estrear sentimentos é tão gratificante quanto rastreá-los."
Maria Alice Estrella
Poeta . Membro da Academia Sul-Brasileira de Letras . Cronista do jornal Diário Popular, (RS)

Fiquei imaginando uma casa redonda, com muitos quartos de janelas voltadas para fora. Em cada quarto mora uma pessoa que, atraves da janela do seu quarto, enxerga a paisagem ao redor da casa... A paisagem que rodeia a casa é única e forma um todo em si mesma... mas cada pessoa enxerga um pedaço dessa paisagem, conforme o angulo que  sua janela lhe permite ver. Para ter uma visão completa da paisagem a pessoa precisaria passar por todos os quartos e olhar todas as janelas.Já experimentei algumas e continuo buscando novos olhares...
O quarto dos sentimentos me dá , conforme descreve taõ bem a Maria Alice, um sabor à vida!
Pode ser que amanhã seja diferente...mas hoje está assim, e é muito bom poder sentir...apenas sentir!
Tais

domingo, 14 de agosto de 2011

Tomar os pais

TOMAR OS PAIS

Uma criança só pode estar bem consigo mesma quando tomou seus pais. "Tomou" foi o que eu disse. Isto é, eu os tomo do jeito que eles são, sem querer desejar algo diferente. Exatamente do jeito que são, e os respeito do jeito que são, sem querer ou desejar algo diferente. Exatamente do jeito que são eles são certos. Quem toma os pais dessa forma está em paz consigo mesmo, sente-se completo. Seus pais estão presentes dentro dele com toda a força.
Alguns pensam que quando tomam seus pais, tomam também os seus defeitos. Nunca vi isso. Quem toma seus pais tem sempre a força total e o que dá medo no destino dos pais, por exemplo, que a mãe seja doente, não é mais importante. Isso desaparece.Os pais não podem escolher o que dão aos seus filhos, e os filhos não podem escolher o que tomam de sues pais.Não podem tirar algo daquilo que foi dado pelos seus pais nem acrescentar nada, porque os filhos são seus pais. Quem reconhece isso está em sintonia com algo maior.
Todos os dias são Dias dos Pais...mas especialmente este...aproveitemos para refletir de um jeito talvez muito diferente daquele que vimos ou aprendemos um dia...

Reverência aos pais
A reverência aos pais é o assentimento à vida como a recebi, pelo preço que a recebi, e ao destino que me é predeterminado. A reverência ultrapassa aos pais. É o assentimento ao próprio destino, às suas chances e aos seus limites.
Essa reverência é também um ato religioso. Quem a faz, de repente, fica livre. Antes talvez precise se defender porque ainda tem uma reinvidicação ou uma censura em relação aos pais. Quem se defende contra algo precisa sempre tê-lo à vista e acabará ficando como aquilo contra o qual se defende. Se, por exemplo, uma mãe afasta seu filho do pai, ele vai ficar como o pai. Justamente quando quero afastar alguém de outra pessoa, afastá-lo de algo, ele vai tornar-se e fazer o que se quer evitar.

O primeiro círculo do amor começa com o amor de nossos pais, como um casal. Foi desse amor que nascemos. Eles nos geraram e nos acolheram como seus filhos. Eles nos nutriram, abrigaram e protegeram por muitos anos. Tomar deles amorosamente este amor é o primeiro circulo do amor. Ele é a condição para todas as outras formas de amor. Como poderá alguém, mais tarde, amar outras pessoas, se não experimentou esse amor? Fa parte desse amor que amemos também os antepassados de nossos pais. Eles também foram crianças e receberam de seus pais e avós o que depois transmitiram a nós. Também eles, através de seus pais e avós, vincularam-se a um destino especial, assim como nós nos vinculamos ao e seu destino. A esse destino nós também assentimos amor. Então olhamos para nossos pais e nossos antepassados e dizemos amorosamente a eles: “Obrigado”.
Esse é o primeiro círculo do amor.
Semana que vem colocarei aqui uma meditação escrita por Bert Hellinger – Meditação sobre o Primeiro Circulo do Amor

Bom domingo aos pais, aos filhos, aos avós, bisavós, tataravós...
Tais

domingo, 7 de agosto de 2011

Todo casal deveria ler


TODO CASAL DEVERIA LER

Por mais que o poder e o dinheiro tenham conquistado uma ótima posição no ranking das virtudes, o amor ainda lidera com folga.

Tudo o que todos querem é amar. Encontrar alguém que faça bater forte o coração e justifique loucuras. Que nos faça entrar em transe, cair de quatro, babar na gravata. Que nos faça revirar os olhos, rir à toa, cantarolar dentro de um ônibus lotado. Tem algum médico aí??

Depois que acaba esta paixão retumbante, sobra o que? O amor. Mas não o amor mistificado, que muitos julgam ter o poder de fazer levitar. O que sobra é o amor que todos conhecemos, o sentimento que temos por mãe, pai, irmão, filho. É tudo o mesmo amor, só que entre amantes existe sexo.

Não existem vários tipos de amor, assim como não existem três tipos de saudades, quatro de ódio, seis espécies de inveja. O amor é único, como qualquer sentimento, seja ele destinado a familiares, ao cônjuge ou a Deus. A diferença é que, como entre casados não há laços de sangue, a sedução tem que ser ininterrupta. Por não haver nenhuma garantia de durabilidade, qualquer alteração no tom de voz nos fragiliza, e de cobrança em cobrança acabamos por sepultar uma relação que poderia ser eterna. Casaram. Te amo prá lá, te amo prá cá. Lindo, mas insustentável. O sucesso de um casamento exige mais do que declarações românticas.

Entre duas pessoas que resolvem dividir o mesmo teto, tem que haver muito mais do que amor, e às vezes nem necessita de um amor tão intenso.

É preciso que haja, antes de mais nada, respeito. Agressões zero.
Disposição para ouvir argumentos alheios.
Alguma paciência. Amor, só, não basta.
Não pode haver competição. Nem comparações.
Tem que ter jogo de cintura para acatar regras que não foram previamente combinadas.
Tem que haver bom humor para enfrentar imprevistos, acessos de carência, infantilidades.
Tem que saber levar. Amar, só, é pouco.
Tem que haver inteligência.
Um cérebro programado para enfrentar tensões pré-menstruais, rejeições, demissões inesperadas, contas pra pagar.
Tem que ter disciplina para educar filhos, dar exemplo, não gritar.
Tem que ter um bom psiquiatra.
Não adianta, apenas, amar.
Entre casais que se unem visando a longevidade do matrimônio tem que haver um pouco de silêncio, amigos de infância, vida própria, um tempo pra cada um.
Tem que haver confiança.
Uma certa camaradagem, às vezes fingir que não viu, fazer de conta que não escutou.
É preciso entender que união não significa, necessariamente, fusão. E que amar, "solamente", não basta.
Entre homens e mulheres que acham que o amor é só poesia, tem que haver discernimento, pé no chão, racionalidade. Tem que saber que o amor pode ser bom, pode durar para sempre, mas que sozinho não dá conta do recado. O amor é grande mas não é dois.

É preciso convocar uma turma de sentimentos para amparar esse amor que carrega o ônus da onipotência. O amor até pode nos bastar, mas ele próprio não se basta.

Um bom Amor aos que já têm!
Um bom encontro aos que procuram!
E felicidades a todos nós!!

(Arthur da Tavola)

É mais que perfeito.
Amor é a raiz profunda e o tronco forte da árvore, mas as flores e os frutos ficam suspensos  nos galhos.

Me parece que somente será dado àqueles que realmente "olharem" para o relacionamento...
Tais